Olá!
Esse ano, venho apresentar para o dia dos namorados um projeto mais otimista que aquele do ano passado, e uma nova parceria entre mim e o meu amigo desenhista, o Jeff! (contato: meeks.wolowitz@gmail.com - nossas colaborações passadas são
essa e
essa).
Claro, não esperem de mim algum romance barato ou comum. A ideia inicial foi do meu amigo Jeff; os nomes dos protagonistas foram tirados de duas divindades da mitologia japonesa, e fomos criando e desenvolvendo a história livremente.
E ela é um pouco sci-fi. Estejam avisados! Leiam, apreciem as ilustrações, e esperarei comentários!
Imzadi (*)
Mais Um Projeto Estranho Arquitetado por Duas Mentes Insanas
Izanagi escondeu o rosto nas mãos. Já fazia dois dias que
encarava aquela situação, e ainda não fazia à menor ideia de qual era o caminho
certo a percorrer.
Izanami jazia imóvel em um dos quartos próximos, e a única
coisa que anunciava que ainda existia era seu peito subindo e descendo
lentamente.
Izanagi aproximou-se do quarto onde ela estava, e ficou na
porta, observando-a, até ter coragem para entrar e a olhar de perto.
Izanami estava em sua forma humana, tão bela como sempre. Os
cabelos pretos se espalhavam pelo travesseiro, e os olhos estavam fechados em
um semblante de paz. Izanagi observou sua amada, sua irmã, e acariciou de leve
seus cabelos.
Por um instante, Izanagi permitiu-se pensar em seu filho,
morto. Não sentia muito por ele; mal respirara e já deixara esse mundo. E quase
levara Izanami junto, pois o coma onde ela se encontrava após o fim do parto
parecia terrivelmente permanente.
Quando pensava nisso, achava melhor que seu filho estivesse
morto. Teria sido capaz de matar a criança em um acesso de fúria se ela
estivesse bem e Izanami não.
Com um suspiro de resignação, Izanagi pensou em seu planeta
natal, e o que estava fazendo na Terra, para a constatação atingi-lo como um
murro em seguida: porque ele gostava.
Adorava esse lugar, a quietude tão maravilhosa que essa ilha
lhe proporcionada, a vida em paz com
Izanami, sua adorada, a definição mais
próxima de perfeição que Izanagi jamais pudera chegar, uma definição mais
precisa que qualquer um dos sábios anciões de seu planeta poderia um dia formar.
Cansado de pensar, Izanagi levantou-se com a intenção de ir
para fora. Ao fazê-lo, assumiu sua verdadeira forma; não é como se houvesse
mais alguém na ilha, então podia retirar seu disfarce humano. Sentiu sua
percepção do ambiente melhorar, embora suas garras ficassem um pouco mais
quentes por conta do sol.
Começou novamente a pensar em Izanami, mas logo afastou o
pensamento. Parecia que não conseguiria ficar perto dela sem tentar penetrar em
sua mente novamente, mas seu poder estava esgotado; precisaria de mais um tempo
antes de tentar pensar em entrar no caos que a mente de Izanami estava.
X_X_X
Izanami fechou os
olhos novamente, fazendo tanta pressão em suas pálpebras grossas que um espasmo
de dor atravessou seu rosto.
Permaneceu de olhos fechados por segundos, minutos, semanas
– como poderia saber? – até abri-los novamente, e ver que não havia mudança
nenhuma em sua situação.
Ainda estava perdida. Ainda estava em um lugar desconhecido,
sem idéia de como havia chegado lá.
Endireitou-se, e começou a caminhar. Tudo era escuro e
desfocado, como um borrão; ela sabia que havia alguma coisa importante que
precisava lembrar, mas simplesmente não conseguia. Mas ela precisava lembrar...
Subitamente, seus pensamentos foram interrompidos pela visão
de um homem a sua frente; ele parecia ser um humano, cabelos pretos e longos,
roupas indígenas. Ela aproximou-se dele e perguntou:
- Onde eu estou? Quem é você? Acho que eu me perdi. Você
pode dizer onde estou?
O índio virou o rosto em sua direção, e ela sentiu um
arrepio passar por todo o seu corpo quando viu aqueles olhos cruéis focados em
sua direção, e um sorriso se formando em seus lábios. Não era um sorriso
amigável; mais parecia que o homem era um lobo que encarava uma presa indefesa
à sua frente.
- Minha querida Izanami, quer dizer que você não sabe?
Izanami abriu a boca chocada ao ouvir seu nome, e foi nesse
instante que reparou que não estava com sua forma humana; oras, por que estava
sendo tão descuidada assim? E se alguém a visse?
Mas sua irritação era maior que sua preocupação e ela logo
perguntou, em um tom de voz exigente que costumava usar quando se sentia
ultrajada:
- Como você sabe meu nome?
Izanami esperou uma resposta, mas o homem continuou calado.
Quando ela pensou em repetir a pergunta, o homem caminhou em sua direção de um
modo ameaçador.
- Não use esse tom comigo, Izanami. Você não intimida a mim.
Ainda mais do jeito que você está. Mortos não me assustam.
- Mortos? – Izanami gritou, em choque – Quem é você? O que
quis dizer com isso?
- Você não está em posição de exigir nada, Izanami. Você
está morta.
Izanami ofegou em choque, e sua expressão personificou-se em
uma máscara de puro ódio. Os olhos largos e geralmente opacos tinham uma
determinação tão forte que assustaria qualquer um, exceto o homem a sua frente.
Concentrou sua mente da melhor maneira possível para tentar ler os pensamentos
do homem, fazendo o topo de sua antena brilhar furiosamente, porém tudo o que
recebeu foi um imenso vazio, como se a mente do homem fosse uma parede branca,
e uma resposta debochada:
- Seus poderes telecinéticos e telepáticos não funcionam
comigo, Izanami, não perca o seu tempo. Até porque você está morta, e acho que esse
poder não funciona muito bem em mortos, mesmo os de sua raça.
- Eu não estou morta. – Izanami disse, tentando controlar a
voz.
- É claro que está! Izanagi a assassinou enquanto você
dormia. Não se lembra disso? – o homem disse, seus olhos parecendo ainda mais
cruéis, mesmo que o tom fosse suave.
- Isso é mentira! – ela gritou – Izanagi nunca me mataria!
- Por quê? Ele já matou antes, Izanami. Quem mata uma vez,
mata mais.
- Ele já matou antes, mas foi por mim! Ele nunca faria isso
comigo, e...
- Por quê? – a voz de outro homem foi ouvida, e Izanami
olhou para trás, para ver um homem praticamente igual a aquele com que estivera
falando se aproximar – Por que ele é do seu planeta? Por que ele é seu amante?
Por que ele é seu irmão? Você é tão tola, Izanami.
- E é por ser tão tola assim que está agora morta. – o
primeiro homem disse.
- É mentira! Vocês são loucos! – Izanami berrou.
- Loucos? Você é quem está louca, minha cara. – um terceiro
homem, também praticamente idêntico se aproximara – Você está morta, assim como
seu filho.
- Meu filho... – Izanami disse em tom baixo, sentindo que
seu filho não mais existia pela primeira vez– O que vocês fizeram com o meu
filho?
- Izanagi fez – o terceiro homem disse. – Você não lembra quando
ele o matou, e lhe matou?
- Eu não estou morta! – Izanami gritou, mas dessa vez não
havia convicção em sua voz, apenas um terrível pavor de estar errada.
- Talvez – o primeiro homem disse.
- Talvez você apenas esteja louca. – o segundo disse.
- O que, sinceramente, parece dar na mesma, não é minha
querida? – o terceiro completou.
Izanami levou suas garras à cabeça e cobriu sua antena, para
que sua mente bloqueasse qualquer ruído externo, e fechou os olhos.
Ao abri-los novamente, estava sozinha.
- O que está acontecendo comigo? – sussurrou para o nada,
sem esperar ter resposta alguma dessa vez.
X_X_X
Izanagi sentou-se na beirada da cama de Izanami, já sob sua
forma natural. Com suas garras, tocou de leve os cabelos então humanos de sua
amada, e resolveu concentrar-se: era hora de tentar novamente entrar nos
pensamentos de Izanami. Sua antena começou a brilhar, e ele cerrou as
pálpebras.
X_X_X
Izanami alternava entre andar e correr, naquele lugar vazio
e escuro, pensando que aquilo realmente não se parecia com nada. No começo,
pensava que estava por alguma razão em seu planeta, mas agora tinha
absolutamente certeza que não.
No meio de uma das corridas, tropeçou e caiu no chão, tendo
dificuldade para se levantar.
- Quer ajuda, Izanami? – uma voz perguntou, e antes que ela
pudesse responder se viu sendo erguida sem dificuldades, como se não pesasse
nada.
Ao virar para quem a levantara do chão, sufocou um grito:
havia dois humanos lá. Porém, eram diferentes; não mais se pareciam com
indígenas. Um era negro, o outro possuía um aspecto oriental, como o disfarce
humano que ela e Izanagi costumavam usar. Usavam as mesmas roupas que os
humanos que encontrara antes.
- O que vocês querem de novo? – sibilou, em um tom irritado.
- Quanta agressividade, Izanami! Só queremos o seu bem. – um
deles disse.
- Isso mesmo! Queremos que pare de lutar e se entregue. – o
outro comentou.
- Eu morreria antes de me entregar. – ela anunciou em uma
voz que teria feito fileiras de guerreiros de seu planeta recuarem.
O humano com pele negra soltou uma risada cruel, e disse
então, com os olhos brilhantes:
- Você já está morta, Izanami.
- Tudo o que precisa fazer – disse o outro – É aceitar isso.
Só então poderemos lhe ajudar.
- Eu nunca aceitaria isso! – as palavras de Izanami eram
duras, mas não se podia dizer o mesmo da certeza de sua voz.
- Oh, mesmo? – o humano com aspecto oriental debochou.
Izanami olhou para os lados, perdida, e tentou novamente ler
os pensamentos deles, sem sucesso.
- Sem poderes mentais para mortos, Izanami. – um deles
disse, mas ela não percebeu qual.
Nesse momento, pela primeira vez, ela duvidou de si mesma. E
se ela estivesse...
- Você está. – aquele que estava mais próximo dela
sussurrou, mas ela entendeu perfeitamente.
E se ela realmente estivesse morta, isso dizia então que
Izanagi e seu filho...
- Ele matou a ambos. – disse o outro, aproximando-se dela.
- Então... então... – ela falou, a voz quebrando e incapaz
de formar novas palavras.
- Izanami, venha conosco. Podemos ajudá-la. – as palavras
eram extremamente gentis, mas Izanami sentiu medo pela expressão cruel que o
outro apresentava. Mas como não se via com mais com escolhas,
começou a
levantar-se.
- Isso querida, venha conosco! – o outro sorriu largamente.
- IZANAMI, NÃO! – uma voz berrou, e ela virou a cabeça na
direção ao som, para ver Izanagi, que igual a si mesma, estava sem a sua forma
humana.
- Izanagi! Onde nós estamos? Ela disse indo em sua direção,
porém os homens a seguraram, e ela teve certeza que aquela força simplesmente
não podia ser humana.
- Ele é uma alucinação sua, Izanami. Liberte-se disso. – um
deles disse, sua voz um silvo irritado.
- Não Izanami, não ouça ele! –Izanagi gritou – Nós estamos
em sua mente, não deixe que eles a façam desistir!
- Na minha mente? Izanagi, isso não se parece em nada com
minha mente, você deveria saber disso. – disse ela, descrente.
- Izanami, você está em coma! Você ficou em coma após perder
o nosso filho, não dê ouvidos a eles e...
- Ele a tenta culpar pela morte do filho que ele mesmo
matou, Izanami. Como poderia isso ser verdadeiro?
– o humano oriental gritou.
-É MENTIRA! Izanami, lute, não deixe que eles a dominem, Izanami!
O humano com aspecto oriental olhou para Izanagi com ódio
supremo, e um segundo depois, Izanami se viu caindo da cadeira ao lado da cama
de Izanami, sua mente recebendo um golpe tão intenso que o derrubara no chão.
Espumando de raiva, ele andou para fora do quarto. Estava
mentalmente esgotado, mas esperaria no
máximo cinco minutos antes de tentar
novamente; tempo era um luxo que ele não dispunha.
X_X_X
- Está vendo como ele não era real, Izanami? Deixou-lhe
sozinha de novo! – um dos homens zombou.
- Ele não me deixou sozinha, vocês o expulsaram! – ela
vociferou, tentando novamente se soltar, sem sucesso.
- Agora Izanami, não há mais tempo a perder. Você vem
conosco, agora. – o homem negro sorriu de um jeito sinistro para ela, e a arrastou
sem dificuldade alguma.
- Você não pode ser humano! – ela disse incrédula – Humanos
não conseguiriam me arrastar assim!
- É por que você está morta, Izanami – o homem oriental
disse – Se não fossemos homens, o que mais poderíamos ser?
- Demônios – uma voz vinda da frente disse desafiadora –
Demônios querendo fazer com que você desista,
Izanami. Não faça isso!
Izanami olhou para Izanagi com supremo alívio, antes de
falar:
- Demônios? Mas... como?
- Isso não importa – os dois homens tentaram puxá-la para
frente, mas a visão de Izanagi lhe dera novas forças, e ela soltou-se deles com
um empurrão, lançando-os longe, e correu em direção a Izanagi, tocando suas
garras juntas, em um sinal de adoração.
- Como eu saio daqui,
meu amado? – ela disse, em seu tom de voz mais suave que tinha usado até então
– Como eu vim parar aqui? Como posso acreditar que é você mesmo?
- Tenho um jeito de fazê-la acreditar, minha amada. – disse
Izanagi, e segundos depois, sua antena começou a brilhar e uma imagem começou a
flutuar em sua frente. Não demorou em Izanami perceber que era uma lembrança
projetada de Izanagi.
- Eu achei esse lugar
fantástico, Izanami. Acho que poderíamos viver aqui para sempre. –disse
Izanagi, encarando o mar a sua frente com sua irmã ao lado.
- Eu achei lindíssimo
também esse lugar, o... como é que os terráqueos o chamam? – perguntou Izanami.
- Japão. Estamos
próximos ao Japão, mas essa é uma ilha longe e considerada perigosa, por isso
está sempre deserta. Estamos sozinhos aqui, minha amada.
- Mas e se aparecer
algum humano e nos ver, Izanagi? Eles saberiam na hora que não somos daqui e a
notícia logo se esperaria.
- Izanami, enquanto eu
estudava os hábitos terrestres, antes de virmos para cá, o que eu mais notei é
quão solitários e descrentes esses seres são. Eles não compartilham a mente;
eles não confiam uns nos outros. Se algum deles conseguisse provas do que
somos, ainda assim, haveria quem não acreditaria nele. Pode um ganhar a
batalha, mas ainda haverá milhares lutando a guerra. – Izanagi disse,
tranquilamente.
- Eu entendo, mas
ainda assim acho arriscado. Não deveríamos nos arriscar a sermos pegos
novamente.
- Eu sabia que você
iria dizer isso. Por isso, andei treinando uma técnica. – ao terminar essas
palavras, a antena de Izanagi começou a brilhar, e, segundos depois, no lugar
de Izanami, havia um rapaz de olhos ligeiramente puxados, cabelos azuis e
espetados, curtos, e um corpo definitivamente humano.
- Como fez isso? –
Izanami perguntou estupefata.
- É fácil, minha
amada. Tudo o que você precisa fazer é se concentrar ao máximo em uma imagem,
aquela que você queira se tornar, e concentrar todos os seus poderes
telecinéticos e telepáticos nela. Eu poderia virar aquilo – Izanami apontou
para uma tartaruga na beira da praia – Se eu quisesse.
Tente você, vamos!
- Eu nunca me
metamorfoseei antes, Izanagi! – disse ela, horrorizada.
- Tente, amada. Não é
difícil. Mas lembre-se de se concentrar apenas em uma imagem. Tente alguma
imagem como as características da minha, mesma cor de pele e formato de olhos,
porque é natural para os povos dessa região.
- Eu tentarei. – disse
ela, concentrando todo seu poder e energia no pensamento. Ao ouvir uma
exclamação de Izanagi, abriu os olhos.
Ao fazê-lo, notou que
agora era uma mulher jovem, de cabelos pretos e longos, compleição delicada.
Porém, uma das suas mãos ainda não estava na forma humana, o que fez Izanagi
rir.
- Com o tempo, você
aprende, amada. Agora, deixe-me tentar algo que os casais de humanos costumam
fazer para expressar afeto, e sempre tive curiosidade de fazer.
Sem esperar uma
resposta, Izanagi chegou até ela e colocou a língua em sua boca, movimentando a
boca sobre a de Izanami, delicadamente. Ela achou o gesto estranho, mas de
maneira alguma ruim, e logo retribuiu ao que depois descobriu ser chamado de
beijo.
Izanami ofegou quando a janela se fechou, mas ouviu a voz de
um dos homens dizer:
- Essa é uma lembrança sua, Izanami! Ele está mexendo em
seus pensamentos para te confundir!
- Cale-se demônio! –
Izanagi rugiu, mas quando viu a incerteza que Izanami ainda tinha, suspirou e
resolveu projetar outra lembrança.
Izanagi sempre foi um
guerreiro dedicado e fiel a causa, mas nesse momento, o que mais sentiu de seu
planeta foi ódio. Ódio por aquela guerra sem motivos, ódio por levar uma causa
doentia acima de todos, ódio por estar destruindo tudo o que levaram séculos
para conquistar.
E ódio porque essa
guerra sem motivos poderia destruir a coisa mais importante da vida de Izanagi:
sua irmã Izanami.
Mas afastou esse
pensamento temerário por uma emoção mais desejável no momento: ódio. Estava em
um campo de batalha afinal, e não podia perder tempo com sentimentalismo.
Explorando sua
habilidade de se mover na água e a inabilidade do inimigo, avançou para cima de
mais alguns, matando tantos quanto conseguia, sentindo um prazer perverso quando
o sangue deles
se misturava à água. O cativeiro de Izanami não estava tão
longe.
Após avançar alguns
metros, e o desvio de sua tropa e de alguns inimigos, Izanagi viu-se a frente
do cativeiro que Izanami lhe transmitiu mentalmente, antes da transmissão ser
subitamente interrompida. Segundos depois, ele entrou, sem levar em conta os
riscos, Izanami sendo o único pensamento de sua mente.
Ao entrar, deu-se conta
de três coisas: Izanami amarrada a uma das paredes, um dos inimigos a frente
dela, e uma arma, em cima de um móvel e distante de ambos.
Durante dois segundos,
nenhum deles se mexeu, mas em seguida, ambos saltaram em direção ao móvel onde
a arma – uma espada – estava, um derrubando o outro.
Logo, embrenharam-se
em uma luta furiosa, de golpes desleais e cruéis. Izanagi estava exausto, o
inimigo era mais forte e estava vencendo; mas um grito de pavor vindo de
Izanami lhe reacendeu o animo, fazendo seus socos e chutes serem mais
vigorosos, e a falta de habilidade de seu inimigo em lutar na água lhe fez
alcançar a liderança da luta.
Quando ainda batalham
furiosamente, bateram no móvel e fizeram a espada cair. Com dificuldade,
Izanagi segurou a espada entre suas garras escorregadias, e com toda a força
que possuía, atravessou o dorso do inimigo com ela, que soltou um gemido de
agonia intenso, e em seguida, seu corpo inerte flutuou na água.
Izanagi retirou a espada
de dentro do corpo morto, trazendo consigo o máximo de sangue que pode.
Aproximou-se então de Izanami, e esfregou o sangue em cada uma de suas amarras,
que se derreteram como mágica. Izanagi então a abraçou em seguida, porém sem
largar a espada.
- Eu sabia que você
viria para mim – ela sussurrou. – mesmo quando eles diziam que você já havia
desistido de mim, que me abandonara, mesmo quando me confundiram, eu sabia que
você viria.
- Eu sempre irei vir
minha amada. Por ti, sempre. Eu matei, e mataria de novo por você. Eu sempre
virei amada, nunca se esqueça disso.
- Nunca me esquecerei
– ela disse em sua voz alegre, apesar das torturas que sofrera anteriormente –
Nunca, meu amado.
- Você esqueceu minha amada – disse Izanagi, tristemente,
quando a lembrança se apagou – Mas não a culpo.
- Então, realmente é você – a voz de Izanami disse, em um
alívio imenso.
- Sim, minha amada. Agora, respondendo as suas perguntas
anteriores: você veio parar aqui depois que perdeu nosso filho. Por algum
motivo que ainda não compreendi bem, seu corpo entrou em uma espécie de coma.
- Nosso filho realmente está morto? – Izanami disse, sua
expressão pesarosa.
- Infelizmente, Izanami. Não houve meios de salvá-lo. Mas
agora, você precisa concentrar-se em sair daqui. Para isso, você deve derrotar
todos os demônios – sim, esses humanos todos são demônios – até o último.
Então, sua consciência estará pronta para voltar. Não acredite neles, lute com
eles, e principalmente, amada, não desista.
- Já chega – o homem de pele negra apareceu novamente perto
deles, e com uma força imensa, expulsou Izanagi novamente da mente de Izanami.
Dessa vez, ele não caíra ao chão, porém sentiu-se esgotado
demais; não conseguiria entrar na mente dele novamente tão cedo. Tudo o que
podia fazer é esperar que ela conseguisse sair das trevas sozinha.
X_X_X
- Saiam de perto de mim – Izanami disse, enojada.
- Nunca, até você se convencer de que está morta. – um novo
demônio havia aparecido; esse tinha feições indígenas, como o primeiro.
- Eu não estou morta. – ela disse, agora convicta.
- Está morta, e uma morta louca. – mais um demônio a cercou.
- Prove-me. – ela disse desafiadora.
Um dos demônios ergueu o braço de Izanami com força e o
levou suas garras em direção ao próprio rosto, fazendo com elas o atravessassem.
- Vê? Você não tem corpo físico, está morta.
- Eu não tenho corpo físico porque estou na minha mente,
imbecil. Você é uma farsa. Eu não acredito em você.
O rosto do homem tornou-se pálido, e ao notar isso, ela
reiterou sua declaração:
- Você é uma farsa. Eu estou viva. Você não é nada.
O homem foi ficando
mais e mais branco, até tornar-se transparente, e então desaparecer.
Izanami sorriu; era um sorriso cruel que já fizera muitos
seres ficarem de joelhos no chão e pedirem misericórdia – Mais alguém quer me
convencer de que estou morta?
Mais alguns demônios se aproximaram, mas ela notou que
agora, após a desintegração de seu colega, todos pareciam hesitantes.
Isso seria muito divertido.
X_X_X
Apenas algumas horas se passaram, mas a Izanagi, parecia que
haviam sido dias. Ele rodava o quarto, andando em círculos, com agora sua forma
humana, e voltava para a cabeceira para observar Izanami e ver se havia alguma
mudança, seu rosto estava tão sereno como antes, mas não havia indicio algum de
mudança.
Quando deixava de disciplinar sua mente
por alguns segundos, parecia ver ela acordar e sorrir para ele, para a visão
desmanchar-se quando organizava os pensamentos;
foi por isso que achou que estava sofrendo mais uma alucinação ao vê-la
acordar, e novamente, organizou seus pensamentos – fatos, não ilusões, mente sonhadora.
Porém, mesmo após fazer isso, Izanami continuara olhando
para ele e sorrindo, e ele levara alguns minutos para entender que ela
realmente voltara.
- Izanami! – ele gritou, e correu para a cama, abraçando-a e
dando-lhe um beijo apaixonado, alguns de seus gestos favoritos em um corpo
humano – Eu sabia que você conseguiria!
- Eu quase não consegui, Izanagi – ela disse, parecendo
exausta, olhando para ele – Quase não consegui. Porém, se eu estivesse a ponto
de desistir, eu me concentrava em você, e minhas forças se renovavam.
- Sempre virei para você, amada. – ele sussurrou, beijando
os cabelos dela.
- E eu para você, amado. – ela disse, abraçando-o com força.
- Por que nem as forças do Império, as forças do nosso ou
desse planeta, das sombras ou da morte poderiam nos afastar. Matei e mataria
por ti, minha amada; morreria por ti.
Izanami não respondeu, mas beijou-o novamente, juntando sua
testa com a dele e sorrindo; ele não precisava de palavras para saber que ela
sentia o mesmo.
FIM
*"Imzadi" é uma palavra vinda de Star Trek (Jornada nas Estrelas). Na série Star Trek: The Next Generation, a personagem Deanna Troi chama o Comandante William Riker de "imzadi" várias vezes. É uma palavra betazóide (na série, betazóides são seres humanóides originários do planeta Betazed), pronunciada como em-ZAH-dee e significa, em geral, amado/amada. (my beloved). Usei essa palavra porque tanto eu quanto meu sócio somos péssimos para títulos.
P.S: se você gostou do conto e quiser postá-lo em algum lugar, fico lisonjeada. MAS antes disso, fale comigo e/ou com o meu parceiro artístico, o Jeff, e quando eu e/ou ele liberar, poste os créditos, ou teremos problemas.