29 de jul. de 2011

Conto - Escravidão

Olá a todos :D

O texto de hoje não é realmente novo; ele é, na verdade, fruto de uma redação que eu fiz para a aula de português no ano passado. Quem me lembrou dele foi minha amiga Bárbara (que aliás, tem um blog lindo, o Todo Eu-lírico, visitem!), e eu resolvi postá-lo. 

Fala sobre a escravidão em geral, e o horror que tudo isso foi.

Espero comentários!

Escravidão

Desde criança, ele lembrava-se das palavras de sua mãe; das descrições da terra bonita, rica, livre. De como ela andava feliz e sem fronteiras. Os sonhos povoavam a mente do pequeno.

Mas não passavam de sonhos; ele não conhecia nenhuma terra bonita e alegre. Só a tristeza sem fim em que viviam, e a paisagem miserável. Não reconhecia em sua mãe a moça alegre e bonita; só via nela olhos cansados e sem esperanças, fincados no corpo magro. Não sabia o que era andar livre; fora condenado à escravidão ao dar o primeiro choro de sua vida na senzala imunda, sem saber que seria o primeiro de muitos.

Toda noite ele rezava para os deuses de sua mãe, para que acordasse na terra natal dela; toda manhã se desapontava ao abrir os olhos e se ver na senzala.

Os anos passaram, a criança cresceu; não era mais criança, mas só mais um que devia começar a trabalhar logo. Com oito anos fora forçado a se tornar homem. Com oito anos, fora separado de sua mãe. Já era 
grande demais.

E ele cresceu, sem conhecer nada que não fosse à fazenda ou o chicote; cresceu e casou com outra condenada, como a ele próprio. Casou e teve uma filha, que ao nascer, ao invés dela chorar, ele chorou; não de felicidade, mas por ele mesmo ter condenado um inocente.

Toda noite ele rezava, para os agora seus deuses, por sua filha. Para que ela acordasse na terra de sua avó; e se desapontava ao vê-la todo dia acordar na senzala.

Sua filha cresceu, e ao contrário das expectativas, formosa se fez; tão formosa, que o senhor da fazenda aceitou a proposta de vendê-la ao bordel da cidade. Ao tentar defendê-la, o chicote dançou com ele com força nunca antes vista.

Naquela noite, ele rezou aos seus deuses para ir para a terra de sua mãe, e nunca mais acordar; chorou quando despertou na senzala.

Negro velho, o tempo passou para ele e os anos não lhe foram gentis. Quando deu prejuízo ao senhor, o chicote lhe foi novamente impiedoso; mas ele já não era jovem para se recuperar.

Naquela noite, entre suor, sangue e ossos quebrados, ele rezou a seus deuses para acordar na terra de sua mãe. Quando acordou, não precisou abrir os olhos para saber que seu pedido fora realizado.

E pela primeira vez ao despertar, sorriu. 

Fim


P.S: se você gostou do conto e quiser postá-lo em algum lugar, fico lisonjeada. MAS antes disso, fale comigo e quando eu liberar, poste os créditos, ou teremos problemas.

23 de jul. de 2011

Conto - Cross The Breeze

Olá pessoas =]

Tenho aqui um novo conto, nomeado com a título da 4ª faixa do álbum "Daydream Nation", do Sonic Youth.

Como vocês vão perceber pelo texto, trata da saudade, e de como viver com ela... espero que gostem =]

Escrevi-o pensando em determinado fato, que talvez alguma pessoa saiba o que é, e se um dia tal pessoa ler isso... saiba, isso é pra você.

Mas para todos os outros, boa leitura, e comentem XD


Cross The Breeze

Conforme ela olhava para o horizonte, podia sentir aquela brisa delicada tocando-lhe os cabelos; apreciou-a de bom grado. Fazia-lhe bem, parecia carregar para longe todas as suas mágoas e frustrações.

E não só a brisa: aquele lugar era extremamente relaxante. O lago calmo, onde ela mergulhava seus pés, a brisa suave brincando com seus cabelos e roupas, o sol que brilhava com força, porém sem irritar sua pele com o calor: o dia parecia perfeito, ainda mais para curti-lo em abençoada solidão.

Estava precisando relaxar, pensou consigo mesma. Sua vida não estava fácil há muito tempo: era um total colapso em todos os sentidos. Seu relacionamento amoroso era insano, sua convivência com a família era péssima, seu emprego não era satisfatório, e uma saudade absurda sufocava seu peito, fazendo às vezes com que o simples ato de respirar fosse de uma dificuldade imensa.

Por muitos anos, o fantasma de tudo lhe isso lhe assustara, lhe assombrara: o medo era terrível, e a sensação de fracasso fizera com que chorasse por várias noites insones.

Mas como os mais sábios costumam dizer, o tempo cura tudo. E estava sendo assim com ela: seu relacionamento ainda era insano, mas aprendera a lidar com toda essa loucura; tentava lidar e entender melhor seus pais, e após tanta luta, conseguira melhorar no aspecto profissional.

Porém uma coisa ainda não mudar: aquela saudade ainda morava dentro do seu peito, causando um estrago enorme dentro de si.

Isso era uma coisa que, definitivamente, ela não sabia como deveria lidar: como preencher aquele espaço vazio que havia dentro de si?

Ela sabia o motivo; sim, sabia, mas não queria pensar nisso. Considerar a ideia de pensar no motivo de sua saudade doía; pensar na pessoa faria doer ainda mais. Ela não queria isso.

Essa dor... não era anormal. Não conforme tudo acontecera. Oras! Ela não queria pensar nisso, mas sua mente era mais rápida, forçando-lhe a se lembrar de tudo.

Ela e outra pessoa; não, não era nem um elo romântico, ela já tinha seu relacionamento estranho na época, e a outra pessoa era comprometida.

Mas fora tão forte quanto um amor arrebatador. Ela e essa outra pessoa; ambas tiveram o mundo em suas mãos, juntas.

Amizade sem fim, daquelas que em poucos meses você pode jurar que é eterna; amizades daquelas que, de pensar em permanecer três dias longe do outro já lhe fazia pensar “Imagine, claro que não aguento!”

Mas descobriu da pior maneira que sim, aguentava.

Quando por motivos que nunca entendera direito, a distância fora imposta a essa amizade, ela não conseguiu aceitar de jeito algum; parecia impossível considerar essa ideia.

No primeiro dia achou que nunca mais ia ser feliz; no segundo, chorou de frustração. No terceiro, não falou com ninguém o dia inteiro. No quarto, aceitou fazer um lanche com os colegas de escritório e riu da piada de um deles.

Conforme os dias foram passando, ela viu que sim, aguentava aquela ausência. Não que gostasse; ainda era amarga em sua boca, como uma xícara de café sem açúcar. Mas era suportável.

E assim o tempo foi passando; pegava-se pensando na pessoa com o qual dividira o mundo e seus sonhos, agora com um sorriso nos lábios, se perguntando se ela estaria feliz agora, se ainda pensava da mesma maneira.

Sentia dor pela separação, e certa revolta de tudo; não queria aquela distância. Mas a vida a fizera aprender cedo que ela não poderia controlar tudo que quisesse. Aceitou que ela precisara ir, aceitou sua partida, mesmo que ainda se preocupasse ao pensar se ela estava bem, ao preocupar-se se ela estava feliz.

Por isso aquele buraco em seu coração poderia nunca passar; quando uma pessoa é conquistada pela outra, se destaca da multidão irritantemente comum e torna-se única.

Especial.

Fora assim com ela. E a distância não iria modificar isso; o sentimento poderia estar guardado, com algumas cicatrizes e, até, esquecido; mas não deixaria de existir.

Sentindo isso, jogou os cabelos para o lado, deixando que a brisa os sacudisse com vigor, para em seguida murmurar baixinho:

“Sinto sua falta...”

Estendeu as mãos como se pudesse tocar em algo, imaginando se esse gesto tão simples não poderia ser sentido pela pessoa na qual pensava.

E quem é que poderia provar que não?

Fim

P.S: se você gostou do conto e quiser postá-lo em algum lugar, fico lisonjeada. MAS antes disso, fale comigo e quando eu liberar, poste os créditos, ou teremos problemas.

15 de jul. de 2011

Crítica: Edukators - Os Edukadores (Filme)

The Edukators - Os Edukadores


"Todo coração é uma célula revolucionária."

"Edukators - Os Edukadores" (do original, "Die Fetten Jahre sind vorbei") é um filme alemão, de 2004. A trama conta a história de Jan (Daniel Brühl) e Peter (Stipe Erceg), que são os "Edukadores", que de forma criativa e sem violência protestam contra as injustiças sociais invadindo mansões para deixar um aviso, aos milionários, de que "seus dias de fartura estão contados". Quando Jule (Julia Jentsch), namorada de Peter, resolve participar dessa atividade invadindo a casa de Hardenberg (Burghart Klaußner) com Jan, enquanto Peter está viajando, a história dá uma guinada inesperada, e sentimentos, segredos e ideologias são postos à prova.

Dirigido por Hans Weingartner, Edukators é um excelente filme. Como puderam notar na sinopse, ele trata de ideologia política e social, mas tudo de uma forma leve e sem clichês. Muito pelo contrário.

A ideologia dos Edukators é provocar os milionários sem realmente cometer nenhum delito: como Jan explica para Jule em determinada cena, dizendo que  os milionários que tiveram suas casas invadidas vão sentir sussuros quando estiverem no banco, em seus enormes iates, sussuros de "Você tem dinheiro demais", ou "Seus dias de fartura acabaram", provocando um medo mais psicológico do que outra coisa.

E o modo como é tratado a ideologia em si é fantástico. Jan é sem dúvida excelente em propagar sua ideologia; ele é cativante, pelo modo como fala, pelo modo como vive e como realmente sente tudo aquilo que prega. Tão cativante, que até Jule sente isso, o que dá início à um triangulo amoroso na trama, que deixa até quem assiste o filme dividido.

Outro personagem que acaba se revelando muito mais do que mostra é Hardenberg; a princípio, pensamos nos tratar de apenas mais um magnata ganancioso que sempre fora assim, desde o início do filme; mas acabamos descobrindo muitas coisas como ele, como o fato de ele já ter sido um revolucionário como os Edukadores, o que faz eles se perguntarem se o tempo também não os corromperá dessa forma.

Com uma fotografia delicada, contratando desde áreas rurais até a movimentada cidade, o filme tem um lindo cenário, e falando sobre a parte técnica, tem também uma linda trilha sonora: destaque para a canção Hallelujah, do cantor Jeff Buckley, responsável por uma das mais belas sequências do filme.

Com ótimas atuações (destaque para o desempenho fascinante de Daniel Brühl) e um roteiro instigante, Edukators é daqueles filmes que, mesmo depois que as legendas subirem, te farão pensar por um bom tempo sobre o conteúdo dele. Mais do que isso: é daqueles filmes que, magicamente, te farão repensar sobre sua própria vida e ideologia.

TRAILER:



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6 de jul. de 2011

Fanfic - Crônicas Vampirescas (Lestat/Gabrielle) - How Soon Is Now? (Gen)

Olá pessoas =D

Uma postagem diferente da habitual: aqui teremos uma fanfic.

Breve explicação para quem não sabe o que é: Fanfic é a abreviação do termo em inglês fan fiction, ou seja, "ficção criada por fãs". Trata-se de contos ou romances escritos por terceiros, não fazendo parte do enredo oficial do livro, filme, animes ou história em quadrinhos a que faz referência.

E pra quem se perguntou o que é gen, é um gênero de fanfic que quer dizer que, basicamente, a história não trata de nenhum ship (casal) específico, e aborda outros temas que não romance. =]

Essa fanfic é baseadas na série de livros intitulada Crônicas Vampirescas, escritas por Anne Rice. Sabe Entrevista com o Vampiro? Pois é.

Essa, especificamente, se passa após o final do livro "A Rainha dos Condenados", e antes do livro "A História do Ladrão de Corpos". Fala do Lestat de Lioncourt e da Gabrielle de Lioncourt, mamãe do rapaz.

Isso aí, aproveitem!

How Soon Is Now?

Ilha da noite.

Ah, bela e iluminada, como sempre. Fervilhando de mortais belos e suculentos, como sempre. E nós ainda vagávamos por aquela procissão de corpos quentes, roubando a vida de um ou de outro, como sempre.

Porém eu sabia que aquela dádiva, calma e previsível, não seria eterna como nós. Na verdade já começava a ruir; cada vez mais os vampiros se afastavam. Marius desaparecia por semanas, e Khayman já pareciam ter voltado a sua rotina de peregrinação. Mesmo Armand e Daniel afastavam-se por longos tempos. E Louis, meu Louis, ainda estava comigo, mas eu sentia-o cada vez mais distante.

E eu sabia que veria todos os outros, e sabia que não podia ficar tantas noites distantes de Louis. Mas ela... ela me assustava. Eu sabia que ela cairia no mundo, e eu teria sorte se a visse novamente até o fim do milênio.

E era nisso que eu pensava quando a avistei; minha mãe, minha filha, os longos cabelos louros presos na trança, e as roupas de menino explorador. Linda, como sempre, em uma das sacadas da casa, observando as ondas do mar que batiam nos rochedos.

Aproximei-me e fiquei ao seu lado, mantendo o silêncio. Ela só olhou para o lado ligeiramente, como para demonstrar que me vira chegar.

Após passarmos longos minutos assim, ela virou-se e me disse:

- Lestat, você sabe que está na hora, não sabe?

Não respondi.

- Você sabe que eu preciso disso, Lestat.

- Mãe... – eu comecei – as coisas são diferentes agora. A época é outra, as circunstâncias são outras...

- Mas eu ainda sou a mesma, querido. – ela sorriu brevemente – E eu não consigo ficar tanto tempo parada 
em lugar.

- No começo, eu achei que poderia durar nossa sociedade...

- Era irrealizável, meu filho, e no fundo você sempre soube disso. Sempre soube que nós, imortais, somos uma classe desunida demais para manter-se perto uns dos outros por tanto tempo.

- Mas Gabrielle – eu protestei – todos os outros ainda se manterão por perto. Você vai sumir 
completamente no mundo, de novo, sem eu sequer saber se você continuará viva...

- Lestat – ela me interrompeu delicadamente, seus frios olhos me encarando com carinho – Os esclarecimentos e as experiências que a natureza me dá são únicos, e são tão necessário pra mim quanto o calor e o amor dos humanos são necessário pra você.

- Gabrielle...

- E eu continuarei viva –ela disse, colocando as mãos no meu rosto – por muito e muito tempo.

- Você não gosta daqui? – eu sabia que estava parecendo uma criança, e mais do que tudo, odiava isso. 
Odiava parecer novamente uma criança, implorando por sua atenção, como há tantos séculos atrás eu fiz.

- É claro que eu gosto – ela disse – e eu gosto da companhia de quase todos aqui, sobretudo a sua, meu filho. São experiências que sempre irei guardar. Mas eu preciso continuar...

- E eu te verei de novo? – eu sabia que a qualquer momento começaria a chorar, e odiava isso também.

- Querido, é claro que vai – ela me abraçou como costumávamos nos abraçar nas ruas de Paris, em 
nossas primeiras noites de imortalidade. Apertei meus braços em torno dela, sem exercer muita força, pois 
ainda tinha certo medo dos meus poderes. Mas abracei-a, sentindo seu corpo firme, no momento quente, contra mim. Tão estranhamente familiar. – Não posso dizer quando Lestat, mas é claro que você nós nos veremos de novo.

Quando ela falou isso, eu percebi que sua voz tremeu um pouco, e olhei-a, vendo um fio de sangue escorrer de seus olhos. A essa altura, eu não tentava controlar mais as lágrimas que saiam de mim.

- Gabrielle... – afundei meu rosto em seu pescoço.

- Eu preciso ir, Lestat. – ela disse, quando levantei meu rosto, e tocamos nossos lábios, em um beijo que amantes poderiam dividir – Eu te amo, meu filho.

- Minha marquesa... – sussurrei contra seu pescoço, quando a abracei por uma última vez.

Ela gentilmente se soltou, e me olhou uma última vez. Em seguida, desapareceu, e eu sabia que não a veria 
novamente tão cedo.

Deixei que as lágrimas caíssem um pouco mais, e observei o mar com reverência. Fora tão doloroso me separar dela como fora da primeira vez.

Mas agora tudo era diferente. A única mudança não realizada éramos nós mesmos.

E eu ainda teria minha marquesa novamente em meus braços.

Fim


P.S: se você gostou da fanfic e quiser postá-la em algum lugar, fico lisonjeada. MAS antes disso, fale comigo e quando eu liberar, poste os créditos, ou teremos problemas.