11 de set. de 2012

Conto - These Days


Olá! Estava arrumando meu blog, quando percebi que nunca havia postado esse texto, e ele deveria estar aqui há meses. Estou corrigindo esse erro agora.

O título foi inspirado na música de mesmo nome do Joy Division (que recomendo ouvir enquanto estiver lendo, pelo youtube ou pelo 4shared). Comentários, críticas e sugestões serão sempre bem vindos!

These Days

Conforme andava, ele procurava certo rosto no mar de pessoas que pareciam atravessar seu caminho; um rosto em especial. Pessoas, pessoas, pessoas: nunca iria encontrar o rosto que queria naquele mar de pessoas?

Pessoas sem rosto, sem gosto, cheiro ou sabor; pessoas absolutamente comuns e normais, mas ainda assim, eram esmagadora maioria naqueles dias. Em todos os dias.

Pessoas que passam pelo mundo sem grandes feitos, sem grandes eventos; nascem e morrem todos os dias aos milhares. Pessoas que sempre estavam em seu caminho.

Insignificantes. Algumas lhe causavam raiva, outras apenas repulsa;  sentia-se superior a essas pessoas, tão vazias e tão insignificantes!

Mas sua sobrevivência insistia em lhe dizer no instante seguinte que ele era o insignificante vazio; não eram aquelas pessoas maioria? Não eram aquelas pessoas felizes, enquanto ele era só mais um amargurado perambulando por aí?

Retirou tais pensamentos da cabeça, não costumavam lhe fazer bem, e concentrou em sua busca. Onde esse filho da mãe está, pensou com uma ponta de raiva.

Malditos dias, malditos pensamentos. Era só mais um tolo com mania de inferioridade e complexo de superioridade, ou seja, um completo paradoxo. Mesmo as pessoas que costumava desprezar por medo ou inveja eram paradoxais assim. É uma característica comum.

Esses dias. Parecia que sua vida era feita desses malditos dias, toda ela; dias de medo, de dúvida, de confusão.

O que era mentira.

Pois mesmo nesses dias, ele ainda poderia contar com aquele rosto, aquele sorriso, e aquelas palavras; ainda podia contar com o conforto dos seus objetos frios, como livros e seus amados discos; ainda podia contar com certa felicidade, mesmo que passageira e limitada.

Gotinhas de felicidade. Que formavam sua vida.

Mesmo nesses dias.

Praguejando novamente quando esbarrou em mais uma pessoa vazia sem cheiro ou sabor, finalmente avistou o que queria: aquele rosto. Os olhos e os cabelos descoloridos, que lhe davam até certo charme. Mas a aparência era o que menos importava. Fora até ele, lhe xingando baixinho pelo atraso e por fazê-lo se perder na multidão.

Recebeu como resposta uma risada e um “eu sei que você me ama assim mesmo”.

Não respondeu, afinal não precisava render-se tanto e admitir que o outro estava certo; não precisava admitir para o outro que tudo ficaria bem, se ele estivesse presente naqueles dias.

Ele mesmo já sabia disso, e era o que o que importava naqueles malditos dias e em todos os outros.

Fim

P.S: se você gostou do conto e quiser postá-lo em algum lugar, fico lisonjeada. MAS antes disso, fale comigo e quando eu liberar, poste os créditos, ou teremos problemas.