29 de out. de 2012

Conto - Reflexões do Tédio


Reflexões do Tédio

Eu juro que o tempo parou e nunca mais vai passar.

É claro que essa não era uma impressão correta - o tempo estava a passar, como sempre o fazia, mas não era o que parecia para ela.

A sensação era de que ficaria para sempre presa com pessoas feias, vazias e chatas, esperando pela sua vez em ser atendida.

Suprimiu o impulso de bater a cabeça contra a parede atrás dessa; ela já estava para ver um médico (se algum dia o tempo e a fila andassem), não precisava acrescentar mais um sintoma na lista dos que já sentia.

Depois de ler as duas revistas que havia disponíveis na sala de espera – duas revistas especializadas em vidas de subcelebridades e outras futilidades inúteis - ela voltou os olhos para a sala, procurando algo para se distrair, sem ter sucesso algum.

Cara - ela pensou - eu vou literalmente morrer de tédio. O doutor vai agradecer não ter uma paciente a menos.

Suspirando profundamente, ela examinou suas unhas com esmalte descascado pela milésima vez, recebendo um olhar feio de uma mulher de meia idade que estava ao seu lado. Ela não hesitou em retornar o olhar duro.

Malditas salas de espera com malditas pessoas feias, hipócritas e insuportáveis e malditas mulheres de meia-idade que te fulminam com o ar por problemas hormonais.

A mulher desviou o olhar e pegou uma das revistas que ela anteriormente havia descartado, onde havia na capa um jogador famoso de futebol. Ela suspirou novamente em alívio.

Deitando-se mais na desconfortável cadeira, ela encarou o teto. Era um teto branco, liso, incrivelmente chato, como era de se esperar em um ambiente como esse. Ela sempre gostara de tetos de madeira, pois eles tinham desenhos legais que sempre mudavam de acordo com o humor. 

O que eu não daria para encarar um bom velho teto de madeira agora.

Voltando a fixar seus olhos no nível normal, ela cruzou e descruzou as pernas duas vezes.

Eu juro que o tempo parou. Não há outra explicação.

Havia um par de garotas conversando e fofocando, dando risadinhas enquanto olhavam uma revista que tinha um ídolo adolescente na capa. Os olhares arrogantes que elas lançavam para todos na sala incomodava até a ela, e ela estava longe de ser uma pessoa humilde.

Odeio adolescentes. Especialmente garotas adolescentes. Não consigo acreditar que já fui uma. Queria ter passado da puberdade direto pra vida adulta. Teria bem menos memórias embaraçosas.

Desviando seus pensamentos desse tópico - sua adolescência não era nem de longe seu tema favorito para uma conversação - ela viu um senhor de uns cinquenta anos observando as duas garotas com um olhar que quase a ofendeu.

Velhos nojentos estão em todos os lugares. Pessoas nojentas, você não pode fugir delas.

Suspirando mais uma vez, ela dobrou seus joelhos e os abraçou, recebendo mais olhares feios dos ocupantes da sala.

Bem, foda-se a minha vida. Se quiserem encarar, encarem. Já faz tempo que deixei de ligar para o que esses malditos todos pensam.

No fundo, isso não era verdade, ou ela não estaria aqui agora. Ela se importava mais do que gostaria de admitir com a opinião alheia, e isso era o que mais a irritava. Ela não queria se importar; não queria ligar, e, no entanto, ainda sentia ansiedade como uma garotinha pré-adolescente falando com o primeiro namorado em toda vez que se dirigia a seu chefe.

Patético.

- Senhorita, é a sua vez!

Assustada, ela olhou ao redor, onde todos ao redor novamente a encaravam - foda-se a minha vida, de fato - e viu que estava na sua vez da consulta.

Se espreguiçando vagarosamente, ela dirigiu-se ao consultório, sem notar os cochichos das garotas adolescentes falando mal de seu cabelo.

Tempo, seu maldito, finalmente você passou.

Fim

P.S: se você gostou do conto e quiser postá-lo em algum lugar, fico lisonjeada. MAS antes disso, fale comigo e quando eu liberar, poste os créditos, ou teremos problemas.